Ao falar dos tombos que sofremos na mais tenra idade, é quase que impossivel não tentar comparar o grau da aflição que um ou outro tropeço pôde nos proporcionar.
Mesmo que inofensivo, o primeiro acidente que nos corre à memória é aquele que, de certa forma, deixou sua marca.
Seja um joelho ralado, uma fenda na testa ou um braço quebrado: ter o primeiro contato consciente com a dor é um terror inolvidável.
Pois, se num momento estamos protegidos nos braços amorosos de nossos pais e sentimos que nada pode nos atingir, minutos depois há uma mistura grossa de sangue e terra que escoa de um corte que não parece assim tão exagerado para quem vê de fora — mas só para quem vê de fora.
Porém não é isso o que torna esse primeiro contato com a dor algo tão apavorante. É a descoberta do quão solitários estamos ao enfrentar uma agonia individual, mesmo sob os cuidados de um adulto.
Por fim, o que se procede após o choque pode variar entre o ardor da higienização ante ao curativo, ou a palmada de advertência. Depois que a compreensão é digerida e descobrimos como as feridas são feitas, ficamos cuidadosos. Um escorregão é erguido com gargalhadas e nos tornamos mais duros que o chão.
Isso, até descobrirmos a queda livre que nos guarda os problemas do mundo...
“A consciência, e não a idade, leva à sabedoria.”
[Publílio Siro]
Amadurecemos com os danos, não com os anos.